O RECREIO E A PSICOMOTRICIDADE
- Larissa Michels
- 8 de mar. de 2020
- 3 min de leitura

A hora do recreio tem se tornado um momento cada vez mais importante para o desenvolvimento motor e social. Em meio a tanta tecnologia, diminuição de brincadeiras de rua, em locais abertos e com pouco contato com outras crianças, há uma notável diminuição no vocabulário motor e social dos indivíduos nos dias de hoje. Tornando este momento um dos essenciais para uma melhor construção pessoal com acumulo de experiências.
Segundo Silva (2012), a importância dada ao brincar é garantida também em lei, através do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), quando aponta no Art.16, inciso IV que “o direito à liberdade compreende os seguintes aspectos: [...] IV - brincar, praticar esportes e divertir-se [...]”, também estando presente no Art. 71, onde se lê que “a criança e o adolescente têm direito à informação, cultura, lazer, esportes, diversões, espetáculos e produtos e serviços que respeitem sua condição peculiar de pessoa em desenvolvimento”, que dispõe sobre a importância de que o que lhe for ofertado seja adequado à sua condição, ao seu desenvolvimento. Assim, o fato de a escola fundamental propor um recreio, poderá ser uma possibilidade de que a brincadeira, a recreação e o lazer estejam resguardados, ao menos na escola, enquanto um direito das crianças.²
O recreio é uma das possibilidades de intervenção psicomotora na escola, ambientes e objetivos muito parecidos, locais adequados, amplos, com auxílio de materiais, e acima de tudo: liberdade de expressão, corporal, de sentimentos, vontades e possibilidades. O brincar para se desenvolver ao pé da letra.
Este momento pode ser encarado como uma miniatura de uma sociedade. As crianças têm a oportunidade de se reconhecer num pseudo-universo, onde sem a interferência constante de um adulto, se vêem com autonomia para se encontrar internamente e externamente no seu momento de agir e de se expressar em comunidade. Assumem seus papéis, de maneira lúdica ou não, acumulando experiências sociais, emocionais e motoras, aflorando sua criatividade, sua individualidade e sua vida em grupos.
Muitas vezes não se permeiam apenas experiências de alegria e descontração, como num exemplo de experiências sociais normais, há inúmeros conflitos, divergências e experiências de exclusão, agressividade, causando assim também, uma importante vivência emocional que precisa ser vivida e sentida sem a interferência direta de um professor durante este momento.
O ponto principal de grande desconforto de muito professor está exatamente em algumas destas experiências que aparentemente fogem do controle pela ineficiência de uma vigilância árdua e constante. Inevitavelmente são experiências claras de um contexto social que essas crianças uma hora vão enfrentar futuramente em ambientes não educacionais. E que como já visto, precisam ser vividas, para seus entendimentos e desenvolvimentos globais.
Existem inúmeras possibilidades de redução de danos, caso se faça necessário, como por exemplo, recreios com atividades dirigidas esporadicamente, para guiar comportamentos exorbitantes e que fogem às regras. Também podem ser realizadas observações indiretas de comportamentos inadequados para intervenção e meios de modificação das mesmas por meio de recursos didáticos com atividades psicomotoras. Dinâmicas e debates que tragam à sala de aula, acontecimentos marcantes e necessários para desenvolvimento geral dos alunos.
É muito importante que se acabe com a ideia de que o recreio é um momento onde há confusão, conflitos e más condutas, esse momento é extremamente importante para a construção global da criança, e se aliando as metodologias das diversas disciplinas, consegue-se um melhor resultado na aprendizagem geral dos indivíduos.
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Referências:
1- Anelise Monteiro do Nascimento. 2014. Por uma antropologia da infância: pesquisando o recreio. Cad. Pesqui. vol.44 no.152 - São Paulo.
2- Aline de Carvalho Fantoni, 2018. Tempo e espaço para brincar: considerações acerca do recreio. Revista Tempos e Espaços em Educação, São Cristóvão, Sergipe, Brasil, v. 11, n. 24, p. 159-186
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